Escolas cívico-militares de Curitiba promovem iniciativas que unem disciplina, protagonismo e aprendizado, valorizando a criatividade e o desenvolvimento pedagógico.

Nos colégios cívico-militares em Curitiba, a rotina vai muito além da disciplina e da organização. As escolas desenvolvem uma série de projetos pedagógicos, culturais e científicos que envolvem os estudantes em atividades de protagonismo, pesquisa e cidadania. Essas iniciativas fortalecem a aprendizagem e ampliam as oportunidades dentro e fora da sala de aula.

Mesmo com a presença de militares da reserva nas atividades de apoio e gestão, o modelo mantém a mesma estrutura pedagógica das demais escolas estaduais, com o currículo e as práticas de ensino definidos pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR).Os colégios cívico-militares combinam a formação acadêmica com valores como respeito, cooperação e responsabilidade.

No Colégio Cívico-Militar João Turin, os alunos estão aplicando metodologia científica nas aulas de Biologia das turmas de 2ª e 3ª série do Ensino Médio. “Dentro desse projeto, eles começam a entender o que é metodologia científica, de sair de um problema, criar uma pergunta. E dessa pergunta, eles criam um objetivo do trabalho deles, os objetivos específicos e as hipóteses para esses objetivos específicos”, afirma Mavi Frantz, professora de Biologia. É um primeiro passo para desenvolverem o raciocínio científico, antes do ingresso na universidade. 

No total, são 17 trabalhos as turmas, mesclando conhecimentos da disciplina e problemas da vida real. No itinerário formativo de bem-estar e saúde, as turmas têm a oportunidade de apresentar o trabalho para uma banca ao final do projeto, composta pela professora e um profissional relacionado à área das pesquisas. “No ano passado, a gente teve a presença de uma psicóloga, porque eles fizeram questionários relacionados à questão de bullying na escola de forma anônima”, explica a professora. 

CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O USO DE DROGAS - Entre os trabalhos desenvolvidos na disciplina de bem-estar e saúde, destaca-se o projeto que investiga a efetividade das políticas públicas de combate ao uso de drogas na adolescência e os processos de reabilitação e ressocialização de dependentes químicos. “Queríamos entender como é a atuação dos órgãos públicos e privados na reconstrução e ressocialização das pessoas que criam esse vício”, explica Melanie do Nascimento, estudante de 17 anos da 3ª série do Ensino Médio.

Para as estudantes, a experiência tem sido enriquecedora. “É muito legal ver como esses órgãos funcionam e ter esse contato direto com o tema. Está sendo gratificante”, diz Alice Cassinza.

SUSTENTABILIDADE - Ainda no Colégio Cívico-Militar João Turin, um grupo de estudantes da 2ª série do Ensino Médio desenvolve um projeto na disciplina de Biotecnologia, analisando a taxa de enraizamento do manjericão com o uso de diferentes adubos.

A estudante Victoria, ex-intercambista do programa Ganhando o Mundo, explica que o grupo utiliza dois tipos de adubos líquidos para observar os efeitos sobre o crescimento da planta. “O nitrogênio é mais indicado para o enraizamento, enquanto o fósforo e o potássio atuam na parte frutífera e foliar”, detalha.

O objetivo é encontrar alternativas mais sustentáveis e menos agressivas para o cultivo. “Queremos melhorar a produção do manjericão e, se possível, expandir para outras áreas”, diz Victoria, que já planeja seguir carreira na área da Biologia e da Polícia Científica.

RODAS DE LEITURA - O Colégio Cívico-Militar Professora Luiza Ross recebe a iniciativa “Até que a literatura nos separe”, promovida pela Fundação Cultural de Curitiba e pela Prefeitura Municipal. O projeto realiza rodas de leitura com os estudantes, em que são discutidas crônicas e compartilhadas experiências que fortalecem a formação de leitores.

Ao longo dos encontros, são apresentados textos de autores como Luís Henrique Pellanda, Rubem Braga, Miguel Sanches Neto e Fernanda Takai. “Os textos escolhidos são bem legais. Foi um complemento nos estudos”, conta Alice Baseni Bershek, estudante do 8.º ano do Ensino Fundamental.

CÍVICO-MILITAR - Quase cinco anos após sua implantação, o modelo cívico-militar é amplamente aprovado pela comunidade escolar paranaense. O levantamento realizado pela Paraná Pesquisas, a pedido da Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR), mostra que o formato — presente em 312 escolas da rede estadual, com cerca de 190 mil estudantes — alcança 89,3% de aprovação entre pais e responsáveis e 90,4% entre professores e pedagogos.

A pesquisa também aponta alto índice de recomendação: 85,9% dos pais afirmaram que indicariam o modelo a outras famílias. Entre os principais aspectos positivos citados estão disciplina, respeito, uso de uniforme, aumento da carga horária e valorização dos estudantes.

NOVA CONSULTA - A Secretaria de Estado da Educação divulgou no dia 3 de novembro a lista dos 50 colégios que participarão da consulta para possível adesão ao modelo cívico-militar a partir de 2026. O processo ocorrerá nos dias 17 e 18 de novembro, com a participação de pais, responsáveis, estudantes e professores.

Em Curitiba, participarão da consulta pública os colégios: Bento Munhoz da Rocha, Domingos Zanlorenzi, Gabriela Mistral, Professor Guido Straube, Monsenhor Ivo Zanlorenzi, Papa João Paulo II, Professor José Guimarães, Professor Loureiro Fernandes, Maria Pereira Martins, Santos Dumont e José Busnardo.